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16 de dezembro de 2022Conheça os Sintomas da Depressão Maior
20 de janeiro de 2023A depressão é uma condição médica que vai além da tristeza cotidiana, podendo causar sintomas profundos e duradouros que interferem nas atividades diárias, prejudicando a vida em família, o lazer, os estudos e o trabalho. Quando as pessoas falam sobre “depressão”, geralmente estão se referindo ao que os profissionais de saúde chamam de transtorno depressivo maior (TDM), como no caso de Denise.
Denise, 59 anos, era viúva e morava sozinha há um ano. Antes de se dedicar unicamente à família, havia feito magistério e trabalhado até os 30 anos de idade. Seus dois filhos, de 27 e 25 anos, eram solteiros e faziam carreira em outros estados. Com relação ao seu casamento, pode-se dizer que ela e o marido tiveram uma vida relativamente tranquila juntos, focada sobretudo na criação dos filhos e no trabalho. Quando tinham tempo livre, desfrutavam juntos de atividades intelectuais e culturais (museus, palestras, concertos e bons restaurantes). Frequentavam a igreja e liam juntos. Tinham alguns amigos íntimos com quem se socializavam, mas esses amigos haviam se afastado durante o período da doença do marido. Há três anos ele havia sido diagnosticado com câncer no cérebro e há aproximadamente um ano havia falecido. Nesse período, já viúva, Denise foi conduzida por um membro da igreja a uma consulta psiquiátrica.
Denise descreveu ao médico que, há um ano e meio, estava com dificuldade de lidar com o cotidiano e com a solidão. Apresentava também perda de prazer, irritabilidade, retraimento social, incapacidade de tomar decisões, fadiga, culpa, dificuldade em motivar-se para realizar atividades de casa. Sentia-se desesperançosa em relação ao futuro, apesar de não pensar em se matar. “Deus esqueceu de mim”, ela afirmou categoricamente.
A viúva explicou ao médico que, durante a vida, sempre cultivou amizades (embora tenha tido um episódio de depressão aos 25 anos após a morte de seu pai) e que passou a se tornar uma pessoa mais isolada socialmente no início da doença de seu marido, ainda que o casal recebesse os irmãos da igreja. Denise foi diagnosticada com TDM.
Seus resultados de exames laboratoriais e de imagem cerebral estavam normais, e o psiquiatra identificou tratar-se de uma depressão moderada, para a qual o tratamento seria antidepressivo e psicoterapia. Também recomendou que ela voltasse à igreja. Após quatro semanas, Denise apresentou melhora do sono e do apetite, passou a cuidar melhor da casa, buscou a companhia de familiares e recebeu a visita de amigos. Também se interessou pela leitura da Bíblia, embora ainda sem retornar à igreja. O plano delimitado por seu médico foi acompanhar o uso da medicação, estimulá-la a recriar uma rede pessoal de apoio e redesenhar sua rotina com atividades gratificantes.
Evolução da depressão maior
O TDM é um dos transtornos mentais mais comuns em todo o mundo. Até 6% da população experimenta um episódio de depressão maior, sendo que a maioria dos pacientes inicia seu primeiro episódio aos 20 anos. Existe um risco maior de episódios entre idosos e mulheres.
Outra questão importante apontada por pesquisas é que algumas pessoas tem episódios de TDM com frequência. Pesquisadores entrevistaram pessoas que não trataram por 13 anos e mostraram que apenas metade das pessoas se recuperou no mesmo ano, uma pessoa média levou 3 anos para ficar livre de depressão após seu primeiro episódio e que 15% delas não se recuperou. Existem tratamentos eficazes para a depressão, e não tratá-la pode levar a sérios problemas. Vale ressaltar que indivíduos que não se tratam apresentam menor qualidade de vida, maior risco de suicídio e piores prognósticos se tiverem alguma condição médica associada.
Sintomas da depressão maior
A TDM pode assumir muitas formas e tem níveis de gravidade. Parte da variabilidade do transtorno acontece porque ele pode ocorrer concomitantemente com muitos outros TMs (como ansiedade ou transtornos por uso de substâncias), que moldam os sintomas da depressão. Para ser diagnosticada com TDM, a pessoa deve ter cinco ou mais dos seguintes sintomas presentes na maior parte do dia, quase todos os dias, por pelo menos duas semanas consecutivas. Dentre eles, destacam-se o humor deprimido e a perda de interesse ou prazer em coisas que normalmente gostava.
- Humor deprimido: pessoas com depressão tendem a se sentir tristes, sem esperança, desanimadas ou “deprimidas”. Às vezes, descrevem esse humor como uma apatia, a ausência de sentimentos. Além disso, algumas se sentem ansiosas, frustradas, irritadas ou com raiva.
- Perda de interesse ou prazer na maioria ou em todas as atividades: chamado pela comunidade médica de anedonia, esse sintoma se refere à ausência de prazer ou interesse na realização de atividades que, antes, a pessoa gostava de fazer. Hobbies e atividades perdem seu apelo, e as pessoas deprimidas dizem que “não se importam mais com aquilo”. Também podem se afastar de amigos ou perder o interesse por eles e por atividades sociais. Muitas perdem a libido.
- Mudança no apetite ou peso: o apetite e o peso podem diminuir ou aumentar como parte da depressão. Algumas pessoas precisam se forçar a comer, enquanto outras comem mais e às vezes desejam alimentos específicos (como junk food e carboidratos).
- Insônia ou hipersonia (dormir pouco ou demais): a depressão em geral altera o padrão de sono, levando as pessoas a dormirem demais ou a não conseguir adormecer. Mesmo após um bom período de sono, as pessoas com depressão costumam dizer que não se sentem descansadas e apresentam dificuldade de sair da cama pela manhã.
- Agitação ou lentidão psicomotora (inquietação ou lentidão): as pessoas com depressão podem sentir-se agitadas e inquietas ou, tendo o efeito oposto, mais lentas. A agitação pode se manifestar como inquietação (torcer as mãos ou andar de um lado para o outro), enquanto a lentidão pode ser percebida como uma redução dos movimentos do corpo ou sensação de pensamento ou fala lentos.
- Fadiga ou perda de energia: em geral, quem sofre de depressão sente-se exausto e apático. Às vezes, precisa descansar durante o dia ou até mesmo sensação de sobrecarga em braços e pernas. Muitos têm problemas para iniciar ou concluir tarefas.
- Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva: outro sintoma é se sentir inadequado, inferior, inútil ou fracassado. Muitas vezes, pessoas deprimidas carregam uma tremenda culpa por coisas que podem ter feito ou deixado de fazer, o que pode levá-las a interpretar erroneamente eventos neutros ou pequenos contratempos como evidência de falhas pessoais.
- Pouca concentração: trata-se da dificuldade de pensar com clareza, concentrar-se ou tomar decisões. Também pode ser a facilidade em se distrair e/ou perda de memória.
- Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio: as pessoas que estão deprimidas podem ter pensamentos recorrentes de morte ou suicídio e podem atentar contra a própria vida. A “ideação suicida” é caracterizada por pensamentos de morte, que podem ser passivos, o que significa que a pessoa pensa simplesmente não valer a pena viver. A ideação suicida também pode ser ativa, o que significa que a pessoa quer ativamente morrer ou tirar a própria vida. Pessoas com qualquer forma de ideação suicida precisam de atenção médica imediata. Algumas têm planos específicos de suicídio ou estão começando a fazer os preparativos, como por exemplo selecionar uma hora e local, comprar um estoque de medicamentos letais ou uma arma. Outras fazem tentativas frustradas e outras morrem. A piora do quadro é determinada quando se sentem sem esperança e veem a morte como a única fuga para sua dor emocional intensa e interminável.
- Outros sintomas de depressão: ansiedade, desesperança e pensamento ruminativo (insistência nos mesmos pensamentos negativos). Há também quem se machuque, por exemplo, cortando ou queimando a pele superficialmente.
Tipos de depressão
Como vimos, em geral, quando se fala em depressão, refere-se ao transtorno de depressão maior, que foi amplamente descrito neste artigo. Contudo, é importante saber que há outros tipos importantes de depressão, que também podem apresentar sintomas avassaladores e interferir no cotidiano.
Depressão bipolar
Pessoas com transtorno bipolar têm períodos de baixo humor e períodos de energia extremamente alta (estes chamados de episódios maníacos). Durante o período de baixa, pode haver sintomas de depressão, como tristeza, falta de esperança e de energia.
Depressão perinatal e pós-parto
Muitas pessoas se referem a esse tipo de depressão como depressão pós-parto. A depressão perinatal pode ocorrer durante a gravidez e até um ano após o nascimento do bebê. Os sintomas vão além de uma pequena tristeza, preocupação ou estresse normal quando do nascimento do bebê.
Transtorno depressivo persistente
Também conhecido como distimia. Os sintomas são menos graves do que a depressão maior, mas duram dois anos ou mais.
Transtorno disfórico pré-menstrual
Forma grave de transtorno pré-menstrual (TPM). Afeta as mulheres nos dias ou semanas que antecedem o período menstrual.
Depressão psicótica
Pessoas com depressão psicótica têm sintomas depressivos graves e delírios ou alucinações.
Transtorno afetivo sazonal
Também conhecida como depressão sazonal, geralmente começa no fim do outono e no início do inverno. Muitas vezes desaparece durante a primavera e o verão.
Tratamentos para depressão
Pessoas com depressão podem receber um ou mais dos seguintes tratamentos: medicamentos antidepressivos, aconselhamento ou psicoterapia e estimulação transcraniana. Vamos ver cada um deles com detalhes.
- Psicoterapia ou aconselhamento: consultar-se com um terapeuta ou conselheiro. Dentre as opções, a TCC é considerada tratamento de primeira linha. Na fase inicial dessa terapia, o paciente é orientado a lidar com estresses ambientais (luto, conflitos interpessoais, sobrecarga de trabalho), a monitorar o humor diariamente, a implementar uma agenda mínima de atividades prazerosas e a organizar horários de sono, alimentação e exercícios. Pode-se encorajar o paciente a marcar encontros com amigos ou a ir à igreja. Durante a fase intermediária, com a melhora do humor, o paciente é estimulado a intensificar a agenda de atividades, a retomar a vida pessoal e profissional e a enfrentar situações-gatilho que o levaram a ter depressão. Na fase final, o paciente é treinado a prevenir recaídas e a redesenhar uma vida mais significativa.
- Medicamentos: pessoas com depressão grave geralmente precisam de medicamentos antidepressivos, tais como inibidores de recaptação de serotonina ou inibidores de serotonina e noradrenalina, associados a psicoterapia ou aconselhamento.
- Estimulação magnética transcraniana (TMS): envolve a colocação de um dispositivo sobre o couro cabeludo a fim de passar ondas magnéticas ao cérebro. Os médicos podem sugerir TMS se os medicamentos, terapia e aconselhamento não tiverem ajudado. É um tratamento novo, mas sem efeitos colaterais preocupantes. Algumas pessoas cuja depressão grave e que não respondem aos medicamentos e TMS podem precisar de um tratamento chamado terapia eletroconvulsiva (ECT), em que médicos passam uma corrente elétrica através do cérebro da pessoa.
Os tratamentos demoram para começar a funcionar. Quem utiliza um medicamento normalmente começa a se sentir melhor dentro de duas semanas, mas pode levar de quatro a oito semanas até que o medicamento tenha seu efeito total. Nota-se também que é comum apresentar uma melhora dentro de algumas semanas depois de começar terapia ou aconselhamento, mas pode levar de oito a dez semanas para obter maior resultado.
É importante ressaltar que cada etapa do tratamento deve ser monitorada por um psiquiatra — e é comum que o paciente tenha que experimentar diferentes tratamentos ou combinações de tratamentos antes de encontrar a melhor abordagem. O médico, terapeuta ou conselheiro podem trabalhar juntos e em conjunto com o paciente para encontrar o tratamento adequado e ajudar a lidar com sintomas e problemas até que o tratamento faça efeito.