Tratamento – Gerenciando o Estresse
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31 de agosto de 2018Conheça algumas estratégias de prevenção ao suicídio.
Dr. Marcionilo Laranjeiras, psiquiatra, mestre pela USP
Perder alguém por suicídio é uma das maiores tragédias da vida. Conviver com alguém com ideias suicidas é um grande desafio para famílias. Você e os seus poderão, certamente, se sentir assustados, culpados, impotentes e desamparados. Estratégias de prevenção são importantes, pois os casos de suicídio têm aumentado a cada ano no mundo. Desse modo, este guia, estruturado em 9 passos, ajudará você a apoiar alguém nesta situação-limite, através de avaliação de risco de suicídio e na tomada de ações eficazes para preveni-lo.
PASSO 1: Tenha acesso a um psiquiatra
Psiquiatras são médicos especializados em saúde mental, capacitados no manejo do risco de suicídio. Podem, portanto, fornecer orientações, medicações e suporte para você e para o seu familiar em crise. Dessa forma, sua primeira tarefa é saber como e quando entrar em contato com a ajuda de um psiquiatra.
PASSO 2: Monte uma equipe de “contenção domiciliar”
Ajudar uma pessoa em uma crise suicida é um esforço de equipe, portanto, conte com a ajuda de familiares e amigos. Tenha uma lista de contatos das pessoas que estão dispostas a cooperar, compartilhe com o psiquiatra e peça orientações. Ao final, faça uma reunião de todos com o familiar com risco de suicídio. Pergunte-lhe o que acha e como podem ajudá-lo.
PASSO 3: Conheça o risco de suicídio do seu familiar
Você e outros membros da sua família se conhecem bem e são capazes de dizer quando alguém na família está em crise. Dessa maneira, seu próximo passo será conhecer a magnitude do risco de suicídio do seu familiar, utilizando assim a Escala de Avaliação do Risco de Suicídio para Famílias. Use esta avaliação para examinar o comportamento suicida, as comunicações suicidas, o isolamento social e vários fatores de risco relacionados ao suicídio. Este instrumento pode ajudar a garantir que você esteja cobrindo várias informações importantes ao questionar sobre tendências suicidas, além de gerar uma valiosa documentação. Entretanto, destina-se apenas como uma ajuda para auxiliar a orientar um julgamento abrangente de suicídio.
Primordialmente, esta avaliação deve ser preenchida junto a um profissional de saúde mental. Seus resultados não são de forma alguma diagnósticos. Além disso, uma pessoa pode estar em risco de suicídio, mesmo que não exiba nenhum dos sinais de alerta listados.
PASSO 4: Execute ações imediatamente se houver riscos significativos
Haverá momentos em que seu familiar terá um risco maior de tentar o suicídio e você e seus familiares precisarão executar um grupo de AÇÕES IMEDIATAS:
- Permaneça calmo;
- Se houver alguma chance de alguém se machucar, retire crianças e idosos frágeis do ambiente;
- Se possível, remova itens que a pessoa possa utilizar em uma tentativa de suicídio;
- Telefone para um profissional de saúde mental e peça orientação;
- Solicite a presença da sua equipe familiar de contenção.
Em outros momentos, o risco pode ser menor, mas você precisa ficar calmo e deverá observar se o seu familiar está mantendo os tratamentos e condutas. Mas, só reduza sua prontidão depois de consulta de urgência com um profissional de saúde mental. Assim sendo, volte a utilizar a Escala de Avaliação de Risco diariamente, não deixe de realizar o passo 4, se necessário.
PASSO 5: Transporte a pessoa com segurança
Primeiramente, uma pessoa que está com um alto risco ou tentou suicídio precisa ser levada numa ambulância com enfermagem treinada para uma avaliação em um pronto-atendimento. Frequentemente isto acontecerá contra a sua vontade, com a família orientada por um profissional de saúde mental. Sendo assim, evite transportar alguém por conta própria em carro particular.
PASSO 6: Conheça o tratamento hospitalar
O paciente geralmente necessitará de hospitalização, que pode ser feita em unidade psiquiátrica em hospital geral ou num hospital psiquiátrico. Importante saber se paciente poderá ser internado voluntariamente ou involuntariamente. Neste último caso a instituição deverá comunicar ao Ministério Público.
Na hospitalização, o tratamento é mais protegido. A equipe de saúde mental pode cuidar dos pacientes de perto. Os pacientes também recebem cuidados intensivos. A equipe supervisionará os pacientes, além de poder entender e manejar fatores de risco, seu contexto, sintomas mentais e controlar o uso de psicotrópicos. Sendo assim, os pacientes têm acesso limitado a coisas que podem usar para se machucar.
PASSO 7: Participe do Plano de Tratamento
Ainda no hospital, a equipe de saúde mental irá trabalhar com seu familiar para criar um plano de tratamento, que deve explicar como todos trabalharão juntos para atingir esses objetivos. Podem se concentrar nos fatores desencadeantes da crise do paciente e serão adaptados a cada pessoa. Podem incluir problemas de saúde mental ou física, relacionamento, ocupacional ou financeiro. Portanto, é necessário incluir membros da família neste plano. Esses planos mudam com o tempo, à medida que o seu ente querido continua no caminho para uma saúde mental melhor.
PASSO 8: Participe do Plano de Alta
Quando os pacientes melhoram, a equipe elabora um Plano de Alta para os cuidados de acompanhamento. Profissionais de saúde mental podem determinar se uma pessoa precisa estar no hospital ou em outro ambiente de tratamento. Eles sempre escolherão a configuração que melhor atenda às necessidades de cada paciente. O acompanhamento pode ser em um programa de hospitalização parcial ou programa intensivo ambulatorial. Os pacientes neste cenário geralmente permanecem no programa apenas durante o dia. Eles estão por conta própria durante a noite e nos fins de semana. Isso permite que os provedores observem atentamente a resposta dos pacientes ao tratamento. Ambulatórios Especializados também podem ajudar pessoas em risco de suicídio. Ao sair do hospital, uma pessoa pode participar de um programa parcial antes de sair para um ambulatório. Certos tipos de terapias e medicamentos são perfeitamente administradas fora do hospital.
PASSO 9. Ajude seu familiar nas Transições de Tratamento
As transições entre a hospital e o ambulatório são momentos de preocupação com o suicídio, pois aos poucos o familiar retorna à “vida real” e precisa lidar com problemas de convivência, retorno ao trabalho ou escola, além de precisar tomar psicotrópicos. Preste muita atenção ao seu familiar durante estes momentos. A família, paciente e equipe devem trabalhar para criar um plano de segurança para monitorar os riscos e criar estratégias de enfrentamento que foram úteis baseadas em sucessos no passado.
Um plano de segurança identifica:
- Sinais de alerta individuais que podem sinalizar um aumento nos pensamentos de suicídio;
- Atividades, apoios sociais e/ou membros da família que podem ajudar a distraí-lo dos pensamentos de suicídio e se concentrar nas razões para viver;
- Pessoas que ele ou ela pode solicitar ajuda imediatamente;
- Profissionais que ele ou ela pode pedir ajuda imediata;
- Etapas a serem tomadas para manter o ambiente seguro e limitar quaisquer meios para a autoagressão.
É importante checar com seu familiar e confirmar o plano de segurança. Organize como você pode trabalhar em conjunto para ajudá-los a usar seu plano de segurança. Pergunte quem está incluído no plano e qual é o papel de cada pessoa.
TENTATIVA DE SUICÍDIO: LIGUE PARA O SAMU (192)
Se houve uma tentativa iminente (acesso a meios letais, com arma, janela, corda, facas, venenos) ou consumada de suicídio, com a pessoa inconsciente, convulsiva, com lesões, traumas com sinais de consumo de venenos, execute um grupo de AÇÕES IMEDIATAS:
- Ligue para o SAMU (disque 192 de qualquer telefone), descreva o ocorrido e indique sua localização. A ajuda chegará em pouco tempo;
- Busque ajuda de outros familiares ou mesmo de vizinhos;
- Não se aproxime do paciente ou evite negociar, se houver ameaças;
- Aproxime-se se o paciente pedir ajuda ou se estiver inconsciente e preste socorro, sempre orientado pelo SAMU.
Finalmente, a escolha de um profissional experiente, apoiador, orientador e disponível é imprescindível para auxiliar as famílias a prevenir o suicídio de uma pessoa querida e conduzi-la a um tratamento de sucesso.