O TEPT é um grave e comum transtorno mental que pode resultar de muitos tipos de situações traumáticas, como combate militar, agressão sexual ou física, desastres, abuso sexual na infância, morte súbita de um ente querido, lesão física grave, doença médica de início súbito e internação em unidade de terapia intensiva.

O quadro de TEPT é bem ilustrado pela história de Victor, um homem de 27 anos que procurou ajuda médica a pedido da noiva. Ele era ex-soldado de um grupo especializado da Polícia Militar (PM). De acordo com a companheira, ele não era o mesmo há anos, o que passou a afetar o relacionamento.Apesar de dar poucos detalhes sobre como se sentia, ao ser questionado, Victor relatou muita dificuldade para dormir (disse que dormia “com um olho aberto”) e, quando o sono era mais profundo, tinha pesadelos. Ele endossou a experiência de vários eventos traumáticos em rondas, mas não estava disposto a fornecer detalhes — disse que nunca falou com ninguém a respeito e que não tem certeza de que um dia falará. Passara muito tempo sozinho porque se sentia irritado e não queria brigar com as pessoas. Relatou que achava difícil desempenhar suas funções atuais como segurança porque era um serviço monótono e dava muito tempo para pensar. Ao mesmo tempo, facilmente se assustava com ruídos e movimentos e passava muito tempo procurando ameaças que nunca eram confirmadas. Victor descreveu ter memórias intrusivas sobre suas experiências traumáticas diariamente, porém, recusou-se novamente a relatá-las. Também evitava encontrar amigos de sua unidade da reserva para não se lembrar delas.

Vitor e a noiva chegaram juntos à consulta com o psiquiatra, que diagnosticou TEPT e prescreveu um antidepressivo e um antipsicótico em doses baixas para a melhora do sono. Duas semanas depois, o paciente voltou menos tenso e relatando estar dormindo melhor. Afirmou sentir-se menos perturbado à noite e de dia. Quanto à terapia, Victor entendeu ser importante a sugestão do psiquiatra, entretanto, não sabia se teria coragem de falar nas sessões. Algum tempo depois, já em terapia, passou a conversar melhor com a família, e a noiva reconheceu que ele estava mais aberto e se preparando para encontrar os amigos de farda.

Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático

Os critérios diagnósticos para TEPT são:

Antes de tudo, a pessoa necessita experimentar ou testemunhar um evento traumático grave, como sequestro, estupro, acidente grave etc. O trauma resultou em respostas cognitivas, afetivas e comportamentais marcantes a estímulos que os lembram dos traumas que vivenciaram, como flashbacks, ansiedade severa, comportamento de fuga ou combate. Pacientes com TEPT compensam essa intensa excitação por meio da evitação, entorpecimento emocional e diminuição do interesse pelas pessoas e atividades. Os pacientes com sintomas semelhantes são diagnosticados com Transtorno de Estresse Agudo, o qual frequentemente remite após 4 semanas do evento traumático. Um diagnóstico de TEPT só será feito após esse tempo. Pessoas que pertencem a grupos vulneráveis, como prostitutas, militares ou ex-militares, encarcerados, hospitalizados, institucionalizados, grupos indígenas, refugiados e civis traumatizados devem ser sistematicamente examinados. É importante saber que o TEPT é comumente uma condição crônica, acompanhado por outras condições psiquiátricas comórbidas, incluindo depressão, transtornos por uso de substâncias e sintomas somáticos. Pessoas com um ou mais sintomas são mais propensas a ter deficiências educacionais, experimentar problemas ocupacionais, ter dificuldade em relacionamentos íntimos e piores condições de vida. Além disso, o TEPT está associado ao aumento do risco de tentativas de suicídio e, em algumas circunstâncias, a taxa de mortalidade de quem o possui é mais alta do que a taxa da população que não o possui.

Tratamento do transtorno de estresse pós-traumático

Uma ampla variedade de psicoterapias e medicamentos tem sido usada com sucesso para tratar o TEPT. A principal forma de psicoterapia utilizada é a de exposição, para que possam desencadear lembranças do trauma. A exposição repetida em fantasia à própria experiência traumática geralmente diminui a angústia após algum aumento inicial do desconforto. Outra estratégia é interromper certos comportamentos ritualísticos, como lavar-se excessivamente para sentir-se limpo por ter sofrido uma agressão sexual.

No que diz respeito aos medicamentos, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina são os mais estudados e podem reduzir a ansiedade e/ou depressão. Às vezes, estabilizadores de humor e antipsicóticos atípicos são prescritos, mas o suporte para seu uso é escasso.

Como a ansiedade é muitas vezes intensa, a psicoterapia de apoio desempenha um papel importante. Os terapeutas devem ser abertamente empáticos e simpáticos, reconhecendo a dor mental dos pacientes e a realidade dos eventos traumáticos. No início, muitos pacientes precisam aprender maneiras de relaxar e controlar a ansiedade (p. ex., atenção plena, exercícios respiratórios) antes que possam tolerar a exposição, que tende a ser o foco do tratamento do TEPT. A psicoterapia trata também da “culpa do sobrevivente”, pois ajuda os pacientes a compreender e modificar suas atitudes autocríticas e autopunitivas.