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Sandra era uma pesquisadora de Letras de 26 anos em boa posição em seu programa de doutorado, com planos de entrar no mercado de trabalho. Descrevia-se como gorda e era consciente de seu corpo desde a sexta série, quando começou a menstruar e, mais cedo do que outras meninas da classe, desenvolveu seios. Na época, escutou zombarias na escola e passou a usar sutiã — seu desejo era possuir seios pequenos como sua irmã três anos mais nova.
Em sua “fase anoréxica”, Sandra começou a fazer dieta na sétima série, seguindo regras rígidas por semanas (havia uma dieta em que só podia comer laranja). Seus pais ficaram preocupados e tentaram limitar estritamente sua dieta. Eles a levaram a um médico generalista porque achavam que ela estava doente, haja vista havia ficado muito magra e anêmica a ponto de parar de menstruar.
Com o passar dos anos, Sandra entrou numa “fase compulsiva”. Ela ganhou peso e desenvolveu o hábito de comer excessivamente para se sentir melhor. O alívio era temporário: ela se sentia envergonhada pelo que havia feito e decidiu não fazer novamente. Ela não comia com a família, mas estocava chocolates e outros salgadinhos para comer escondida no quarto quando se sentisse triste, assustada ou louca. Foi a melhor época de sua vida em sua opinião, pois se sentia no controle.
Na faculdade, o padrão de alimentação emocional continuou e tornou-se ainda mais angustiante, porque, em suas palavras, ela sentia uma pressão para parecer “tão bonita e magra quanto outras garotas”. Todavia ela ganhou muito peso: consumia com frequência cerca de sete barras de chocolate em quinze minutos, momento no qual se sentia muito fora de controle. “Foi a pior fase da minha vida, pois cheguei à obesidade”, contou Sandra.
Durante um verão, Sandra passou para uma “fase bulímica”, pois experimentou vomitar depois de comer tarde da noite e descobriu que, pelo menos nos minutos que se seguiram, sentia-se muito mais no controle. Passou a acreditar que isso a ajudaria a evitar o ganho de peso, mas entrou em um círculo vicioso de comer e vomitar em seguida. Tinha episódios de purgação compulsiva cerca de seis noites por semana. Foi então que procurou ajuda.
Sandra passou a fazer psicoterapia e a usar medicação controlada. Mostrou significativa redução da compulsão alimentar e perdeu muito peso, inclusive devido à dificuldade em esconder os episódios por viver agora com o namorado. Estimava que a purgação havia caído de seis para quatro noites por semana. Apesar de ser considerada a melhor aluna dos últimos anos, enxergava-se como uma impostora, porque devia estudar até de madrugada para acompanhar as matérias. Os momentos em que ela se sentia mais compelida a comer e purgar eram quando tinha uma apresentação importante ou quando brigava com o namorado. Estava trabalhando suas crenças sobre perfeccionismo e melhorando seu autocontrole. Seu índice de massa corporal já estava na faixa normal, mas Sandra acreditava que deveria emagrecer mais. Ela demonstrou o desejo de parar de comer e purgar, porque não queria que seu namorado descobrisse esse hábito, mas também tinha medo de parar e então ganhar peso.
Há muitas Sandras no mundo. A cultura ocidental mostra uma obsessão pela busca do corpo perfeito. A mídia é recheada de histórias sobre controle de peso, dietas, cirurgias plásticas ou outras intervenções para modificar o corpo. Modelos e atores geralmente exibem um nível de magreza difícil de alcançar, programas de computador são usados para alterar fotografias e alguns atletas buscam incansavelmente um corpo mais magro para melhorar o desempenho. Isso tudo estimula a proliferação de transtornos alimentares.
Esses transtornos são caracterizados por uma perturbação persistente da alimentação e autoimagem corporal que prejudica a saúde e o funcionamento psicossocial. Os mais conhecidos são a anorexia nervosa (quando a pessoa está obcecada pelo corpo magro e evita comer) e a bulimia nervosa (marcada pelo comportamento de provocar vômitos após comer excessivamente). É importante observar que a anorexia nervosa é o transtorno alimentar com maior mortalidade.
Na população em geral, a prevalência dos transtornos alimentares ao longo da vida é de até 1%.
Tipos de transtornos alimentares
Anorexia nervosa
Evitação ou ingestão insuficiente de alimentos, o que leva a uma falha persistente no atendimento das necessidades nutricionais e/ou energéticas. O diagnóstico não deve ser feito se os alimentos não estiverem disponíveis ou estiverem associados à prática culturalmente sancionada. A anorexia também não se deve a uma condição médica geral ou a outro transtorno mental.
Transtorno da compulsão alimentar
Ingestão de uma quantidade de comida maior do que a maioria das pessoas iria ingerir em período semelhante, sob circunstâncias semelhantes. Essas situações acontecem em média pelo menos uma vez por semana durante três meses. Os efeitos da compulsão alimentar estão associados ao descontrole e ao sofrimento com a alimentação.
Bulimia nervosa
Episódios de compulsão alimentar (com grande quantidade de alimento em pouco tempo) e comportamento compensatório (vomitar, exercitar-se, usar laxativos) para evitar o ganho de peso. Ambos, em média, pelo menos uma vez por semana durante três meses.
Tratamento do transtorno alimentar
O tratamento vai depender do tipo do transtorno alimentar. Normalmente, envolverá uma combinação de psicoterapia, educação nutricional e medicação. Uma abordagem organizada pode ajudar o paciente a controlar os sintomas, retornar a um peso saudável e manter sua saúde física e mental.
O componente mais importante é a psicoterapia. Pode durar de alguns meses a anos e ajudará a normalizar os padrões alimentares, alcançar um peso saudável, monitorar a alimentação, desenvolver habilidades de resolução de problemas, lidar com situações estressantes, além de melhorar relacionamentos e o humor.
No caso de transtornos alimentares, pode ser feita uma combinação de terapias. A TCC concentra-se nos comportamentos, pensamentos e sentimentos relacionados ao transtorno; depois ajuda o paciente a obter uma atitude alimentar saudável ao reconhecer e mudar pensamentos distorcidos. Também é possível realizar psicoeducação familiar, para que os membros da família aprendam a ajudar o paciente a retomar um peso saudável, até que possa fazer isso por conta própria. Esse tipo de terapia pode ser especialmente útil para os pais que estão aprendendo a ajudar um adolescente. Por fim, a terapia em grupo envolve uma reunião junto com outros pacientes com transtorno alimentar. O objetivo é abordar pensamentos, sentimentos e comportamentos relacionados ao transtorno que aparecem em situações interpessoais, ensinar habilidades para gerenciar sintomas e recuperar padrões alimentares saudáveis. O psicólogo pode pedir lição de casa, como manter um diário alimentar para revisar nas sessões de terapia e identificar os gatilhos do comer disfuncional, purgação ou outros comportamentos alimentares pouco saudáveis.
Por sua vez, a educação nutricional é realizada por nutricionistas, que podem ajudar o paciente a entender melhor seu transtorno e desenvolver um plano para alcançar e manter hábitos saudáveis, além de corrigir problemas resultantes de desnutrição e obesidade.
Já os medicamentos ajudam a controlar sintomas de um transtorno alimentar, depressão e ansiedade. Os antidepressivos inibidores de recepção de serotonina e estabilizadores do humor são mais comuns para tratar distúrbios alimentares que envolvam comportamentos de compulsão alimentar ou purgação, mas, dependendo da situação, outros podem ser prescritos.
Hospitalização por distúrbios alimentares
A hospitalização pode ser necessária se o paciente tiver sérios problemas de saúde física ou mental, ou se tiver anorexia e não conseguir comer ou ganhar peso. Pode virar uma emergência médica e fatal se não for tratado por muito tempo. Em muitos casos, o objetivo mais importante da hospitalização é estabilizar os sintomas médicos agudos por meio do início do processo de normalização da alimentação e do peso. O tratamento em hospital-dia é uma modalidade intensiva e estruturada. Geralmente exige atendimento durante várias horas por dia, vários dias por semana e inclui cuidados médicos, terapia em grupo, individual e familiar, sessões de alimentação estruturada e educação nutricional.Ao final de cada dia o paciente vai para casa, retornando no dia seguinte para continuar seu tratamento.