A 4ª Onda da Pandemia da Covid-19: Ansiedade, Estresse e Depressão
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25 de maio de 2020Por Dr. Marcionilo Laranjeiras, Psiquiatra e Diretor Clínico
Entenda o que é Ansiedade Normal Relacionada à Covid-19
Inesperadamente a preocupação dominou o mundo com o anúncio da Pandemia do Coronavírus desde o início deste ano. Naquela época, nos perguntávamos: “Vai chegar no Brasil?” ou “Talvez isso seja sério, deverei acumular suprimentos?”.
Desde então, passamos a ver notícias de escolas e empresas fechando ao redor do mundo, o setor de aviação parando e os índices globais de ações mergulharem. Até aí, nossa ansiedade era leve.
A Pandemia Tornou-se um Fato
Em fevereiro, nossos medos iniciais ficaram ainda mais enraizados em nossa mente depois de entrarmos em quarentena, pois nos deparamos com modificações na nossa rotina. As pessoas estavam preocupadas em abastecer seus lares, passamos a trabalhar de casa e os nossos filhos tiveram que fazer uma transição abrupta para o ensino à distância. Neste momento, nossa ansiedade subiu bruscamente, mas a maioria das pessoas seguiu as medidas preconizadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e Ministério da Saúde do Brasil.
De fato, as pessoas passaram a argumentar em redes sociais: “não é tão grave” ou escreviam “será o fim do mundo”. Podemos até chegar ao ponto de pensar: “Vamos morrer desse vírus?”. Vamos perder algum amigo ou alguém da família nesta pandemia? Assim, uma boa quantidade de pessoas já começou a perder o controle da ansiedade nesta fase.
Desde março até o presente, estamos vendo o crescente número de casos e mortes relacionados ao vírus. As notícias de falecimentos agora chegam aos nossos ouvidos diretamente de conhecidos. Nossas mentes ficaram consumidas pela ansiedade e pânico sobre a propagação do coronavírus e seus impactos. Mas, a maioria das pessoas logo entendeu que o distanciamento físico mitigaria a 1ª onda da curva da Covid-19, reduzindo a propagação do vírus e a sobrecarga aos sistemas de saúde.
A ansiedade é Normal?
Sim, a ansiedade, a preocupação e o medo são normais e as pessoas precisam delas para perceber perigos e para se protegerem. Estamos vivendo um momento de risco global na história humana. As epidemias mataram milhões de pessoas desde a pré-história e nosso cérebro entra em alarme máximo nestes contextos. É até desejável estar preocupado e ansioso neste momento.
O problema de se preocupar com um fenômeno ubíquo como a Pandemia do Coronavírus é que ele se torna uma obsessão mundial, e cria uma “cultura de medo”. É quase uma condição. Desse modo, é preciso ter cuidado.
Novas preocupações apareceram: “mas o que vamos fazer agora já que não dispomos de vacina nem de tratamento eficaz?”. Entendemos que sem uma vacina contra a COVID-19, não poderemos voltar a ser como éramos. É de crucial importância que utilizemos bem nosso tempo agora.
Entretanto, a preocupação crônica e excessiva é inútil. Afinal, ela faz a pessoa perder horas, dias ou até semanas da sua vida com a falsa suposição de que “Se eu me preocupar, o que temo não acontecerá”. Pura ilusão!
Entenda o que é a ansiedade patológica relacionada à Covid-19
Indícios de aumento de ansiedade patológica relacionada a Covid-19 foram na população chinesa durante a fase inicial da Pandemia. Um inquérito naquele país mostrou mais da metade dos respondedores registraram sintomas moderados a severos de ansiedade, depressão e estresse (Wang, 2000).
O medo de estar contaminado, de morrer ou de perder um familiar foram os principais problemas apontados, além de distúrbios de somatização, como dores de cabeça ou insônia. Ganho de peso, depressão, medo, culpa e ansiedade também são sintomas comuns relatados por eles. Em casos mais graves com relatos de Ataques de Pânico e Transtorno de Estresse Pós-Traumático estiveram presentes em 30% dos registros. Os principais fatores de risco foram quarentena demorada, isolamentos forçados, ser profissional de linha de frente (médicos, enfermeiros, socorristas, policiais), ter perdido alguém ou ser hospitalizado pelo Covid-19.
O excesso de preocupação é prejudicial
A ansiedade patológica é diferente. Veja o infográfico que compara ansiedade normal e a patológica abaixo. A principal característica é a preocupação crônica e excessiva que causa sofrimento, tensão, insônia, desconcentração, interfere no trabalho e na vida social. Uma vez criada a preocupação crônica, ela tende a sequestrar qualquer outra agenda que você tenha para a sua vida. Pode assumir todos os seus planos, esperanças, sonhos, agendas e aspirações. Em essência, sua vida pode girar em torno de sua preocupação. Com o agravamento do quadro, a pessoa emitirá comportamentos exagerados de segurança e higiene, ficará isolada socialmente além do necessário.
Procurando ajuda
É comum as pessoas aderirem à crença que “se penso muito no pior, estarei preparado”, aguardando o pior resultado, mas sem fazer absolutamente nada, o que reforça a preocupação. Isto não ajuda e não resolve o problema. É necessário tomarmos medidas preventivas ainda em quarentena para preservar a saúde mental, pois o isolamento social requer lidar com diversos medos – seja da doença, da morte, de perdas econômicas. As pessoas que perderam parentes, os profissionais de saúde, de resgate e policiais necessitam ainda mais de cuidados especializados e de buscar ajuda.
REFERÊNCIAS:
- Wang C, Pan R, Wan X, et al. Immediate Psychological Responses and Associated Factors during the Initial Stage of the 2019 Coronavirus Disease (COVID-19) Epidemic among the General Population in China. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(5):1729. Published 2020 Mar 6. doi:10.3390/ijerph17051729
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